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DIA 4 – INIMIGO INTERNO

DIA 4 – INIMIGO INTERNO

Treino é treino. Repetição atrás de repetição! Aquecimento padrão, mas sempre direcionado para modalidade do dia. Hoje não teve os jogos, o que não quer dizer que não houve descontração. O clima é sempre bom e o ambiente é harmônico.

Hoje era dia de Luta Livre. O objetivo é dominar e finalizar o adversário. Quem puxou o treino foi o professor Erik Silva. Formamos duplas para fazer o “rola” – expressão para o trabalho de chão na Luta-Livre e no Jiu-Jitsu – de olhos fechados e fazendo perguntas à dupla.

Nessa dinâmica a força era pra ser leve, existem diversas doses de força. Comecei com o Lucas, depois com o Bryan e posteriormente com o Diego. Eles foram generosos e com certeza usaram menos força e técnica comigo. Aquele sentimento de atrapalhar o treino dos atletas sempre acontece. Agradeço imensamente pela generosidade, tem sido uma experiência incrível. As perguntas eram das mais variadas, desde uma conta matemática até nome de parentes, idade e outras perguntas aleatórias.

Erik Silva cerrado mma

Ao solo, com consciência de onde o seu parceiro está, fechamos os olhos e começamos o “rola”. Domina-se uma parte do corpo, perna, braço, pescoço… E através desse ponto de partida você precisa fazer uma montada, pegar as costas, raspar.. Além disso, cada lutador tinha que fazer essas perguntas simples para o outro, sempre revezando as perguntas. Foi um desafio muito interessante.

Depois disso, veio aquela parte do treino que costumo chamar de momento mais sério. O treinamento tem um processo e hoje estavam dando continuidade a um trabalho que já estava sendo desenvolvido. Aqui nada é aleatório, sempre existe um propósito. O movimento trabalhado na semana anterior foi relembrado e um novo foi inserido.

Era um movimento muito complexo, para mim, claro. Na hora que o professor Erik o demonstrava, todos os atletas prestavam bastante atenção e tiravam as suas dúvidas. São ávidos pelo conhecimento. Aumentar o repertório é fundamental para um atleta de alta performance, essas são as ferramentas que podem fazer total diferença numa luta. Atletas também têm sonhos, família, desejos e anseios. Atleta também é gente.

O treino inteiro se baseou num único movimento. Com variações de tempo, trocando as duplas e com pequenos momentos de descanso. Em torno de 20 ou 30 segundos de descanso. Pois é, sempre trabalhando no limite. Depois de ajustar os lutadores, o professor Erik me chamou para uma parte do tatame para me ensinar o princípio da luta de chão. É uma metáfora da vida.

Primeiro ele trouxe a perspectiva de ser líquido como a água, de Bruce Lee. Depois ele mostrou na prática. Não sem antes me explicar os princípios básicos da dominação. Se você trava um braço pela mão, o adversário tem mais chances de sair da pegada. Se você domina o braço pelo cotovelo, já tem um pouco mais de domínio e assim por diante. O adversário tem o mesmo intuito que você, dominar e finalizar a luta. Ele vai medir força e dificultar ao máximo que você o domine, assim como você também estará fazendo o mesmo. É um princípio básico, mas é a base que sustenta tudo, na luta e na vida.

Na prática, isso significa que você precisa acompanhar a movimentação do seu adversário. Se você aplicar toda a sua força sem considerar a movimentação dele, você simplesmente tem menos chances de permanecer na posição de domínio. Porém, se você acompanhar e se adaptar aos movimentos – acontecimentos externos – do adversário, você tem cada vez mais chances de permanecer na posição de domínio. Isso serve pra luta ou pra vida? E se somos capazes de aplicar isso na luta, por que não seríamos capazes de aplicar isso na vida?

Se adapte à realidade e siga a sua jornada em direção ao seu propósito. Degrau por degrau.

Agradeço ao professor Erik pelos ensinamentos. Mestres são pessoas que compartilham suas sabedorias com paixão e clareza. Estar na Cerrado MMA me dá o privilégio de estar cercado de diversos mestres.

O Daniel me conduziu para um adversário de peso, o nome dele é saco de pancadas. O desafio era dar joelhadas no saco de pancadas com os olhos fechados. A situação era essa: olhos fechados, braços erguidos e dando o máximo de joelhadas que era capaz. Em 10 minutos eu já estava pedindo arrego. O Daniel chegou no meu ouvido e disse: “Fazer cara de que tá doendo não vai te ajudar em nada, comece a agradecer.” Comecei a agradecer diversas coisas e naturalmente isso foi mudando o meu estado interno.  Essa pequena mudança me fez ir muito além. O meu joelho estava ardendo muito por conta do atrito e fui orientado a fazer o movimento da joelhada sem encostar no saco, era uma forma de adaptar à minha situação. Por estar nesse estado de gratidão e foco, voltei a variar entre dar a joelhada e fazer o movimento sem encostar no adversário até o final do treino.

Quando mudamos a forma como enxergamos a realidade, mudamos a realidade. Uma mesma realidade pode ser percebida por diversos prismas. Quem era o meu real adversário? O saco? Nem pensar.

Quando direcionamos o nosso foco para o joelho ralado e para a dor, tendemos a perder energia vital e começamos a pensar em desistir. Ao mudar o foco para os nossos propósitos com gratidão, quebramos a resistência que poderia nos impedir de conquistar os nossos objetivos. Isso se aplica nas adversidades da luta e da vida. O inimigo é interno, sempre.

Wiliam Shakespeare dizia: “Transformação é algo que acontece de dentro pra fora.” A decisão é pessoal, só nós somos capazes de transformar e criar a nossa realidade. O ambiente da Cerrado MMA é apenas o meio. Agradeço imensamente ao mestre Daniel Evangelista pela oportunidade de viver essa imersão.

Domine a si mesmo e vença os adversários. Domine a si mesmo e vença as adversidades da vida. 

Eduardo Sande

Eduardo Sande

Ator, apresentador e pesquisador na área de desenvolvimento pessoal e alta performance.

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2 comentários em “DIA 4 – INIMIGO INTERNO”

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