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DIA 3 – TREINAMENTO DE GUERRA

Ontem eu havia feito o teste dos meus pontos fortes, mas ainda não tinha lido o que estava no livro. Li tudo o que o livro dizia sobre os meus 5 pontos fortes antes de dormir. É inacreditável, as informações eram bem coerentes com a minha realidade. O livro revelou as razões das minhas conquistas e fracassos. Foi como se um filme estivesse passando pela minha cabeça. Ainda vou me debruçar mais nesses pontos do livro, além de finalizar a leitura.

Acordei com o corpo ainda dolorido, resolvi o máximo de demandas possíveis, organizei outras demandas para depois do treino e fui direto para o centro de treinamento da Cerrado MMA. Mesmo com o excesso de demandas e responsabilidades que tenho, consigo me desligar quase que completamente e só volto a dar atenção aos problemas depois que o treino termina.

O treino começou e foi muito parecido com o do primeiro dia. Todos começam com um alongamento. Parece ser um padrão, o que faz todo sentido para evolução. Depois do aquecimento começam os jogos que são divertidos e descontraídos. Esse momento – que tenho chamado de jogos – é bem legal. Os atletas riem, se divertem e isso não impede que levem a sério o treino. Os lutadores permaneceram me tratando como café com leite, mas dessa vez me perdoaram menos. Gostei disso e naturalmente tive que pagar as flexões por não conseguir tocar nos joelhos deles.

Uma coisa muito legal que aconteceu hoje, é que os lutadores me ajudaram bastante no aquecimento, dando dicas e ajustando para que eu fizesse os movimentos com mais qualidade. Essa generosidade perdurou por todo o treino.

Eu fiz levantamento de humano hoje, nem imaginava que seria capaz de carregar aqueles caras. O aquecimento não se resumia apenas em levantar o parceiro que estava fazendo dupla contigo, também tínhamos que andar com o parceiro suspenso de uma ponta à outra. A sensação era que eu estava num treinamento de guerra em um exército de elite. Para os atletas era apenas mais um dia normal.

Depois do aquecimento e dos jogos, começou a parte do treino que é mais séria. Onde os atletas se dedicam para aprimorar os seus movimentos. Achei que fosse para o saco de pancadas novamente, ledo engano.

Quem conduziu o treino foi o cubano, o nome dele é Luís. A história dele é bem intrigante, ele era atleta da equipe olímpica de luta livre de Cuba, mas infelizmente foi dispensado depois de lesionar o joelho. Não me cabe julgar a cultura de outros países, mas vencedores sempre encontram alternativas para triunfar. Sorte nossa, ele veio para o Brasil para continuar se dedicando ao esporte e agrega enorme valor ao elevar o nível dos atletas de ponta da Cerrado MMA. Registro aqui o meu respeito e gratidão ao mestre.

No aquecimento de hoje um atleta teve um corte no rosto. Não houve desespero da parte dos lutadores, isso faz parte do treinamento de um esporte onde há contato físico. O próprio lutador estava tranquilo. Faz parte do esporte e tudo foi tratado com naturalidade. Ele foi embora para cuidar do ferimento, mas com certeza estará de volta o mais breve possível. Desejo melhoras.

Quando começou a segunda parte do treino, o Luís me colocou para treinar com um dos atletas. Senti um desconforto, não quero que minha presença atrapalhe o rendimento e o treinamento dos lutadores. Ser um atleta de ponta exige que eles aproveitem cada instante do treino. Contei com a generosidade dos atletas e em instantes já estava me sentindo melhor. Esse sentimento se repetiu algumas vezes, sempre que um lutador novo ia treinar comigo.

O primeiro treino era de queda, a minha dupla era o Davi, um cara incrível. Me incentivou a todo instante e me orientou para fazer os movimentos com qualidade. Ele também reproduzia os movimentos em mim e tomei diversas quedas. O treinamento é punk, são muitos detalhes para fazer o movimento perfeito e o peso do próprio corpo ao cair no tatame machuca. Tudo é feito com responsabilidade e as dores são suportáveis.

Em algum momento o treinador cubano veio ajustar meu movimento. A seriedade desses caras é surpreendente. Eu não estou ali para me tornar um lutador profissional, inclusive já passei da idade, completo 40 anos em janeiro de 2021. O mais incrível é que ele veio falar comigo como se eu fosse um atleta da equipe. Essa sensação de pertencimento me gera o sentimento de gratidão. Atletas são pessoas inspiradoras.

A base do treino de hoje foi a queda, acho que era dia de wrestling. Em outro momento do treino, estava fazendo dupla com o Diego, caí com o estômago no joelho dele ao aplicar a queda que estávamos praticando. Senti uma dor muito grande e precisei parar para me recuperar. Nesse momento ele me orientou a respirar com postura para que a recuperação fosse mais rápida. Me lembrei das poucas aulas de karatê que fiz na infância. Eu deveria ter uns 9 anos na época e na primeira aula, um aluno mais velho e mais graduado me deu um soco no estômago quando eu estava desprevenido e na frente de outros alunos. A maior diferença da dor de 30 anos atrás para a dor do acidente de hoje, é que hoje não houve o sentimento de vergonha.

Sobre as dores, cheguei com dores nos pés, nas coxas e nos braços. Saí do treino de hoje com dores nos pés, nas coxas, nos braços, nas costas, na bunda e com os pés esfolados de ficar raspando no tatame. Além disso, minha orelha estava pelando por conta das transições para as costas e raspadas no tatame. Essa é a razão pela qual as orelhas de diversos atletas são no estilo couve-flor. O treino de hoje foi bem exaustivo.

Depois do treino houve um bate papo no octógono. Nessa conversa estavam o Daniel Evangelista, Vicente Luque, Viviane Araújo, Tarcísio Romano, Brendom e mais uns 3 atletas. Eles trocaram informações, compartilharam dúvidas e receberam orientações precisas.

CORPO, MENTE E CORAÇÃO.

Os lutadores participam de uma mentoria via videoconferência às quartas-feiras e eu tive a oportunidade de participar. Quem conduziu a mentoria foi o Daniel Evangelista, ele contou com o apoio do atleta Vicente Luque e da psicóloga Luciana.

Ser um atleta de alta performance exige muito mais do que se dedicar aos treinos físicos. Não vou entrar em detalhes para preservar a integridade da equipe da Cerrado MMA. O que posso dizer é que não existe um único fator que faz desses caras vencedores. Assim como o sucesso de uma empresa não se dá apenas por um detalhe. Atuar em alta performance, seja no octógono ou em qualquer outra área, exige disciplina, gana, determinação, respeito, foco e muita força de vontade. A rotina de um atleta desse porte exige deles uma disciplina inacreditável. É preciso dedicar a vida.



Eduardo Sande

Eduardo Sande

Ator, apresentador e pesquisador na área de desenvolvimento pessoal e alta performance.

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